segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Trabalho da Agência Brasileira de Inteligência desagrada a Dilma

NATUZA NERY
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA\Folha de São Paulo

Quando as primeiras denúncias de espionagem dos EUA contra Dilma Rousseff chegaram ao conhecimento do Palácio do Planalto, a presidente foi "para cima" do general José Elito, responsável pela segurança presidencial e pelo serviço de inteligência do governo brasileiro.
Dilma não hesitou e, há duas semanas, disse ao general na presença de auxiliares: "Esses relatórios são de anteontem, Elito!".
Quem acompanha Dilma de perto diz que o termo "de anteontem" é usado com frequência para definir a falta de agilidade da inteligência brasileira em captar e repassar informações estratégicas.
Sergio Lima/Folhapress
José Elito, chefe da inteligência, durante evento em Brasília, em março
José Elito, chefe da inteligência, durante evento em Brasília, em março
Para deixar a presidente informada, Elito faz duas reuniões, uma matinal e outra chamada de "pôr do sol", com o comando da Agência Brasileira de Inteligência.
Resistente a repassar à presidente todos os relatórios de inteligência produzidos pela Abin, Elito exige uma síntese dos assuntos mais relevantes, que fazem parte de um mosaico de cerca de 700 diferentes cenários monitorados.
Trata-se de uma coletânea resumida de informes, dados de órgãos do governo que fazem parte do sistema de inteligência, breves análises de notícias e, às vezes, trechos de relatórios detalhados.
Normalmente, essa síntese encomendada diariamente pelo general tem duas páginas e, justamente por ser sucinta e genérica demais, é alvo de críticas não apenas de Dilma como de outros integrantes do governo.
Auxiliares lembram que, durante os protestos de junho, os documentos "secretos" da Abin, entregues todas as manhãs à presidente, traziam locais e datas dos atos. As mesmas informações, contudo, estavam publicadas em jornais e na internet.
Desde Lula
Mas há quem acredite que parte do problema está na edição e restrição dos dados repassados a Dilma. O general filtra as informações da Abin, apresentando apenas as que considera relevante. Muito recentemente, por exemplo, dados sobre o cenário internacional passaram a ser incluídos com destaque.
Auxiliares de Dilma alegam que, no ano passado, ela não teve acesso aos documentos da Abin que mostravam o enfraquecimento político do então presidente do Paraguai, Fernando Lugo.
Apesar de os documentos terem sido entregues no dia anterior à abertura do processo impeachment, a presidente só foi informada depois.
O desgosto da chefe quanto ao serviço prestado pela inteligência brasileira não é novidade no Planalto. O ex-presidente Lula era tão ou mais queixoso que sua sucessora.
Em 2007, por exemplo, ao ser surpreendido com o motim dos controladores de voo, Lula perguntou para que servia o trabalho da Abin.
Dilma também questiona a eficiência da agência. Diante das suspeitas de que foi vítima da espionagem dos EUA -com a divulgação de uma apresentação na qual aparece sua foto como exemplo de um método de coleta de dados-, a presidente chamou assessores ao seu gabinete.
Segundo a Folha apurou junto a interlocutores, ela fez uma comparação, dirigindo-se a José Elito: "É como um carrinho de brinquedo enfrentando um trator".
Questionado, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República informou que "deixa de se manifestar em virtude de [as perguntas] abordarem temas voltados para a atuação da inteligência de Estado".

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