terça-feira, 23 de abril de 2013

MP dos Portos divide governo e setor


Autor(es): Por Daniel Rittner e Francisco Góes
Valor Econômico - 23/04/2013

O secretário de planejamento e desenvolvimento portuário da Secretaria de Portos, Rogério Menescal, disse ontem que as mudanças feitas na medida provisória de reforma do setor não diminuem a expectativa de investimentos em novos terminais. Quando anunciou o pacote de portos, incluindo a MP595, o governo divulgou uma estimativa de investimentos de R$ 54,2 bilhões até 2017.

"As expectativas eram bem conservadoras. O que já identificamos [como projetos do setor privado] é bem maior do que isso", disse Menescal, em entrevista a jornalistas. Segundo ele, a carteira de terminais privativos em estoque alcançava 40 empreendimentos no início de dezembro, quando a MP foi publicada. Hoje, existem na carteira 114 projetos. "As mudanças não chegam a comprometer o [planejamento] elaborado."

O empresariado do setor não compartilha do otimismo do secretário e vê problemas nas mudanças feitas. Em nota, a Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac) afirmou que o relatório da MP 595, a MP dos Portos, feito pelo senador Eduardo Braga (PMDB-AM), atingiu diretamente as empresas de navegação.

A navegação afirma que a preocupação do setor refere-se à inclusão, no texto do relatório, de dois parágrafos que limitam a participação dos armadores em atividades portuárias a 5% do capital das empresas que venham a explorar os novos empreendimentos nos portos. A avaliação da entidade é de que a medida faz o Brasil ir na contramão do que ocorre no mundo. A Abac representa as empresas brasileiras de navegação que operam no transporte marítimo de cabotagem, entre os portos na costa brasileira. "Permitir-se a participação direta das empresas de navegação na administração da estrutura portuária desponta como a consequência lógica do mercado", diz a nota.

Nos últimos anos, aumentou, porém, a preocupação de certos setores, entre os quais os terminais de contêineres arrendados à iniciativa privada, em relação a um possível aumento da participação de empresas de navegação estrangeiras no segmento de terminais de contêineres. Fonte do setor disse que a preocupação refere-se à possibilidade de os armadores estrangeiros utilizarem os terminais como centro de custo para suas operações no Brasil, mas essa hipótese é negada por executivos ligados a terminais privativos. Outra fonte do setor afirmou que as medidas previstas no relatório da MP 595 em relação aos armadores impõem restrição "inconstitucional" às companhias de navegação.

O motivo para essa limitação estaria baseado em uma lógica de verticalização. Em outras palavras, os armadores, ao investir também em terminais portuários, poderiam controlar toda a cadeia logística. Mas esse argumento é rebatido pelos terminais privados, alguns dos quais já contam com participação de armadores em seu capital social.

Na visão de um executivo, a limitação aos armadores só poderia ser feita por meio de um processo no Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e não via ato legislativo "discriminatório."
Amanhã, a comissão parlamentar responsável pela análise da MP 595 deverá votar o texto de Braga. O relatório teve algumas modificações em relação ao texto originalmente enviado pelo governo ao Congresso, como a introdução da figura do terminal-indústria e a renovação por cinco anos dos contratos de arrendamento firmados antes de 1993.

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