segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Crise de Interesse Policial


by mvreis

Fonte: Marcus Reis - Segurança e Defesa
Existem eventos na sociedade que possuem algo em comum e que merecem a atenção dos organismos policiais. Uma tentativa de suicídio, um sequestro, um ato terrorista, um assalto com tomada de reféns, um motim em uma penitenciária, uma manifestação violenta no Congresso Nacional, entre tantos outros fatos, são situações que ocorrem diariamente ao redor do planeta e que possuem uma característica comum e de interesse das polícias: todos podem ser caracterizados como uma CRISE DE INTERESSE POLICIAL.
Uma crise (do grego krisis) é um fato, um evento que leva a uma situação perigosa, criando instabilidade. A crise de interesse policial é espécie de crise, inserindo a característica de ser de interesse das policias por afetarem a segurança do indivíduo e da coletividade. Para o FBI é “um evento crucial que exige uma resposta especial da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável”.
Normalmente, a crise de interesse policial é um evento inesperado, que surpreende, motivo pelo qual todas as organizações de segurança pública possuem equipes especiais de pronto uso para essas situações, como seus grupos de operações especiais, popularmente chamados de SWAT (do inglês special weapons and a tactic – armas especiais e táticas). É bom destacar que essa incerteza pode ser reduzida e muitas vezes eliminada pelo desenvolvimento da atividade de inteligência nas forças policiais, prevendo muitas crises e preparando uma resposta mais adequada para o caso.
Em toda crise de interesse policial existem ações que devem ser tomadas pelos envolvidos na resposta, como a contenção da crise, o isolamento da área de crise e a gestão da crise.
contenção é o ato de evitar a dispersão e aumento da crise, muitas vezes de responsabilidade por órgãos não policiais, como segurança privada, bombeiros etc. São os first responders (primeira resposta), elementos muito importantes em qualquer crise, pois são as primeiras pessoas que tomaram contato com o evento indesejado, buscando contê-lo e levantar o maior número de informações a fim de subsidiar a resposta do gestor da crise. Assim, o first responder possui normalmente a função de identificar a crise, contatar as autoridades policiais, evitar o aumento da crise, evitar a exposição de civis na crise, conquistar posição mais segura, oferecer segurança aos demais cidadãos, entre outros.
Isolar significa separar a crise da vida comum, deixar os perpetradores e os envolvidos diretamente na crise, como por exemplo reféns, apartados do resto da sociedade com o intuito de que a resposta seja o mais específica possível, sem preocupações com outros fatos e pessoas. Essa área isolada possui diversos nomes, como perímetro tático, área de busca, área isolada etc., dependendo do tipo de crise (atentados, sequestros, suicídio etc.). Para ilustrar, em um atentado terrorista, isolar significa ilhar determinada área afetada pela explosão, permitindo a pronta retirada de feridos e a busca de elementos que esclareçam o atentado. É uma função das polícias, mas que poderão ter ajuda de forças privadas e até das forças armadas no caso de crises vultosas, onde a área a ser isolada é muito grande.
Por fim, após a crise estar contida e a área isolada, inicia-se a última fase da resolução de uma crise de interesse policial, que é a gestão. Na gestão, por sua vez, podem haver quatro fases ou meios técnicos à disposição do gestor, dependendo do tipo de crise. Envolvem, assim, a negociação, a utilização de armas menos que letais, o tiro de neutralização e o assalto tático. Destaca-se que em certos tipos de crise de interesse policial, como em um atentado terrorista de cunho jihadista, talvez a fase da negociação e da utilização de armas menos que letais poderão não ser utilizadas, partindo a gestão da crise prontamente para o uso da força letal, considerando o radicalismo e impossibilidade de negociação, bem como o alto risco em se utilizar forças não letais que permitam o acionamento, por exemplo, de dispositivos explosivos (como em um atentado suicida). Neste caso, pode-se valer da negociação para posicionar melhor o atirador de elite ou para ganhar alguns minutos mais de tempo.
negociação é ponto crucial na tentativa de resolução da crise. Usualmente é desenvolvida por policiais preparados para tal, com noções de psicologia, vida social, história, sociologia, política interna e externa etc. São aqueles que darão o ritmo para a solução da crise, deixando o perpetrador (ou perpetradores) mais calmo, baixando o nível de estresse e trazendo mais segurança ao gestor da crise. Normalmente, a maior parte das crises é solucionada durante a negociação, não necessitando o gestor dispor de outros meios. É comum as pessoas pensarem que o negociador é ou pode ser o gestor da crise, mas isso não é assim. O gestor é figura diversa, possuindo o poder de dar uma solução, aquela mais adequada. O negociador não decide! (e quem decide não negocia!).
O gestor da crise possui outros instrumentos para a solução deste evento. Já vimos que a negociação pode resolver uma crise, com convencimento do perpetrador na desistência de seu desígnio. Muitas vezes a negociação não é suficiente e, dependendo do tipo de crise, podem ser utilizadas armas menos que letais (como taser, gás, bombas de efeito moral, bombas de luz e som, munição de borracha etc.). Como exemplo, uma crise com manifestantes no Congresso Nacional, onde estes não ofereçam risco à integridade física do público, a arma menos que letal pode ajudar a solucionar o problema, propiciando uma resposta adequada e segura aos perpetradores e ao restante dos envolvidos na crise.
Caso a negociação não resolva e a utilização de armas menos que letais não seja possível, o gestor poderá determinar o uso do tiro de neutralização (ou de comprometimento, ou letal). É uma solução adequada e à disposição do gestor para determinado tipo de crise, sempre com o subsídio dado pelo negociador. Suponhamos que em um assalto com refém o perpetrador todo o tempo mantenha uma faca no pescoço da vítima, bem como esteja em um estado de estresse e desespero que não foi reduzido pelo negociador. Este pode subsidiar o gestor da crise com informações sobre a impossibilidade em vencer adequadamente essa crise policial somente com a negociação, mostrando que o perpetrador oferece risco real para a vida do refém e não demonstra que se entregará sem matar sua vítima. Neste caso, bem como em diversos outros, uma solução adequada é a eliminação do perpetrador. O tiro de neutralização ou de comprometimento é dado por uma figura especial do time de gestão da crise, o famoso sniper ou atirador de elite.
Por fim, caso seja impossível a solução da crise pela negociação e pelo uso de armas menos que letais, como também pela impossibilidade técnica e operacional de utilizar o tiro de neutralização (que não oferece risco aos policiais), o gestor poderá autorizar o assalto tático (alguns chamam de invasão tática). Esta ação é levada a cabo pelo grupo chamado time de resposta, SWAT, grupo de operações especiais etc. (cada organização policial possui um nome para tal grupo). São policiais treinados para entrar em qualquer ambiente e solucionar a crise. É a última solução a ser dada em uma crise porque expõe a vida do policial, que pode ser alvejado pelo perpetrador. Nesta solução, além da vida do perpetrador e da vítima, a vida do policial também estará sendo exposta ao perigo, motivo pelo qual é a último mecanismo técnico a ser usado pelo gestor.
Portanto, assim é buscada a solução de uma crise de interesse policial. 

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