Mulheres fora do concurso para soldado da PM
Após dois anos reservando espaço para elas, corporação volta atrás e exclui candidatas de seleção para 6 mil vagas em janeiro
POR | ALINE SALGADO FRANCISCO EDSON ALVES |
Rio - As mulheres estão prestes a perder espaço na Polícia Militar. O próximo concurso para soldado da corporação, que será aberto em janeiro, com previsão de 6 mil vagas, apenas para homens. A medida interrompe um ciclo na PM em relação à figura feminina na corporação.
Dados das últimas seleções para soldado mostram aumento na participação feminina. Em 2009, foram abertas 200 vagas para elas — 5% do total. Já em 2010, o número mais que dobrou: 800 postos oferecidos (22%), sendo que 1.500 acabaram convocadas.
Segundo o chefe do Centro de Recrutamentos e Seleção de Praças da PM, tenente-coronel Roberto Vianna, o grande rigor físico exigido para o cargo de soldado é a justificativa para que as mulheres sejam excluídas desta seleção.
Arte: O Dia
Para o diretor pedagógico da Academia do Concurso, Paulo Estrella, a falta de estudos biométricos e de capacidade de carga dos equipamentos, no entanto, estaria atrapalhando a inserção delas na PM.
“O problema, segundo me relatou o tenente-coronel Vianna, é que a carga de equipamento que cada soldado transporta no treinamento e no dia a dia inviabilizaria a participação de mulheres. O que a PM se propôs a fazer, segundo ele, é desenvolver um estudo do limite de carga para as mulheres para tentar conciliar a necessidade da atividade com o limite físico feminino”, afirma Estrella.
Mulheres da corporação estão indignadas. “É um absurdo. As mulheres comprovaram na prática que a PM precisa dos nossos trabalhos. Somos fundamentais, principalmente nas comunidades com UPPs, porque conseguimos fazer muito bem esse trabalho de polícia de proximidade. Temos um olhar diferenciado sobre a comunidade”, argumentou uma tenente de 30 anos.
Uma colega de profissão morreu num ataque na Nova Brasília, no Alemão, em julho.
A soldado Fabiana Aparecida de Souza, 30, levou tiro no peito e não resistiu.
Mulheres PMs integraram grupo de reforço na Rocinha após morte de
policial em abril | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Tema divide especialistas em segurança e saúde
Especialistas em segurança e saúde divergem sobre o assunto. “O rendimento
intelectual das mulheres é superior. No último concurso, dos 10 primeiros colocados,
seis eram mulheres. Mas elas também têm mostrado valor operacional,
principalmente nas UPPs”, comentou o coordenador de Comunicação da PM,
coronel Frederico Caldas.
“Concordo (com a decisão da PM) em parte. Mas elas têm vida profissional
mais eficaz quando exercem cargos de chefia, de comando”, opina o coronel
Mário Sérgio Duarte, ex-comandante-geral da PM.
Paulo Storani, antropólogo, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais
(Bope),consultor de segurança e pós-graduado em Gestão de Recursos
Humanos, que comandou a primeira turma de oficiais femininas em 1983,
acha que as PMs ‘são capazes e já conquistaram seu espaço na corporação’.
“É irreversível. Essa decisão é momentânea”, ressaltou.
Altamiro Bottino, fisiologista do Botafogo, que avalia o funcionamento
corporal dos jogadores, por sua vez, é enfático. “É uma decisão acertada.
Não é uma avaliação machista, mas realista. Os homens têm, em média, entre
10 e 15 kg de massa muscular a mais que as mulheres, e sete quilos a mais
de estrutura óssea. Isso faz muita diferença”.
As três primeiras colocadas numa turma da PM de 2010: elas dividiram a sala
de aula com maioria masculina | Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia
No efetivo há 30 anos
A PM do Rio instituiu o primeiro efetivo feminino há 30 anos, em 17 de
março de 1982. Eram 158 alunas do Curso de Formação de Soldados,
que atuavam em pontos turísticos, trânsito, hospitais e em ocorrências
com mulheres, crianças e adolescentes. Hoje, há mais de 2,9 mil mulheres
na corporação.
Para X., uma soldado de 24 anos que pediu anonimato, que isto seria
uma forma de preconceito na PM. “Há espaço para todos, seja no
serviço operacional ou administrativo. Não deveriam olhar o gênero,
mas, sim, a aptidão e a dedicação do policial”, disse.
Y., 22, outra soldado, acha que as mulheres têm tanta competência
para atuar na PM quanto os homens. “Muitas ocupam postos de
comando e são respeitadas.
O problema da falta de preparo não é pelo fato de ser mulher,
mas pela formação, que não é adequada para atuar em áreas conflagradas”.
Colaborou Vânia Cunha
Fonte:http://odia.ig.com.br
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