sábado, 4 de junho de 2011

Cabral monta gabinete de crise após ação em quartel dos bombeiros

Em coletiva, governador chama bombeiros presos de "vândalos e irresponsáveis" e confirma exoneração do comandante da corporação

iG Rio de Janeiro | 04/06/2011 09:10 - Atualizada às 13:43

O governador do Rio, Sérgio Cabral, classificou de "grupo de vândalos e irresponsáveis" os bombeiros que invadiram o quartel-general da corporação e confirmou a exoneração do comandante-geral dos bombeiros do Estado, coronel Pedro Machado. O cargo deverá ser ocupado pelo coronel Sérgio Simões.
Em entrevista coletiva, o governador disse que o grupo de bombeiros que participaram da manifestação não vai "prejudicar de forma alguma a imagem de uma instituição tão respeitada e querida pelo povo do Rio de Janeiro".
Cabral iniciou a coletiva defendendo a política adotada durante seu governo. "Há décadas o corpo de bombeiros não vê o número de equipamentos e condições de trabalho que recebeu nos últimos quatro anos", disse.
Além disso, o governador foi enfático ao afirmar que os responsáveis responderão administrativa e criminalmente pela invasão.
O governador esteve reunido desde as 8 horas da manhã deste sábado com assessores no Palácio Guanabara para fazer um diagnóstico do confronto entre bombeiros e as forças do Batalhão de Choque e do Bope após a invasão do quartel-general da corporação, na noite de ontem. Cabral montou um gabinete de crise para avaliar a situação.
Participam da reunião os secretários de Segurança (José Mariano Beltrame), Sérgio Ruy (Planejamento), Wilson Carlos (Governo), Regis Fitchner (Casa Civil), além da procuradora-geral do Estado, Lúcia Leia, e do vice-governador Luiz Fernando Pezão. Durante a manhã chegou ao local também o comandante-geral da Polícia Militar, Mario Sérgio Duarte.
No início do dia, o então comandante-geral dos bombeiros do Estado, coronel Pedro Machado, saiu do Palácio Guanabara sem falar com os jornalistas. Ele afirmou somente que todas as informações serão passadas pelo governador.

Foto: André Teixeira/Agência O Globo
Bombeiros em greve invadiram quartel na noite de ontem
De acordo com um dos comandantes da greve, Cabo Benevenuto Daciolo, todos os bombeiros militares detidos, cerca de 440, entraram em greve de fome. Os militares dizem ainda que bombeiros de folga e familiares estão sendo convocados pela direção da greve a ocuparem quartéis em todo o Estado do Rio de Janeiro. O movimento é uma represália à prisão dos bombeiros que invadiram o quartel-general na noite de ontem. Segundo os militares, somente casos de extrema emergência estão sendo atendidos, como acidentes de trânsito e incêndios.

http://tvig.ig.com.br/id/8a4980263052269701305b40fb5f0462.html

O quartel de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, é um dos que não estão atendendo casos de rotina. O local já esta cheio de familiares e de militares que estão de folga. O mesmo acontece no quartel de Campinho, na Zona Norte da cidade. De acordo com os bombeiros de Campo Grande, não há prazo para retirar as famílias de dentro das unidades. No entanto, o governador Sérgio Cabral não confirmou a informação.
Pelo menos 11 ônibus já saíram de dentro do quartel-general dos bombeiros com 439 militares presos. Eles foram conduzidos para o Batalhão de Choque da Policia Militar do Rio e então para a Sede da Corregedoria, em São Gonçalo. O local, entretanto, foi considerado inadequado. Os presos permanecem dentro dos ônibus e aguardam uma nova transferência.
O Batalhão de Choque e o Bope entraram no quartel dos bombeiros por volta das 6h30 da manhã. Foram ouvidos tiros e bombas. Também houve queixas sobre a liberação de gás de pimenta. Pelo menos cinco crianças ficaram feridas na ação. Pelas primeiras informações, alguns bombeiros também estavam armados.
A deputada estadual Janira Rocha (PSOL) foi até o batalhão e disse que houve tiros de fuzil no momento em que a PM invadiu o quartel. “Tem viatura dos bombeiros perfurada por tiro de fuzil", disse, mostrando uma cápsula de fuzil. “Não sei como Cabral deu uma ordem dessa".
Vários bombeiros apresentaram ferimentos, mas evitaram ser atendidos no hospital Souza Aguiar, que fica a poucos metros do local, para não serem presos. Até agora, não há um número oficial de feridos. “A gente ganha pouco, não temos condições de trabalho e ainda tomamos tiro, porrada e bomba. Isso é uma vergonha nesse governo”, disse o bombeiro-militar Marcelo Aguiar Silva, na Praça da República. Ele foi um dos bombeiros que tiveram pequenas escoriações. Apesar dos ferimentos, ele preferiu entrar em um carro particular, para ser socorrido por meios próprios.

A invasão do quartel dos bombeiros foi liderada ontem por cerca de 2 mil manifestantes. Eles foram surpreendidos pela ação realizada nesta manhã, pois tinham montado barricadas no local, mas o Bope e o Batalhão de Choque entraram pela lateral do quartel.
Dezenas de bombeiros foram levados para o Batalhão de Choque da PM, na região central. Eles estão sendo mantido na quadra do local, acusado de desobediência e de destruição de patrimônio público. Fora do batalhão, cerca de 60 pessoas pedem a liberação dos manifestantes e gritam palavras de ordem como "Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil, Cidade Maravilhosa, pior salário do Brasil". São ouvidos também gritos de “Bombeiros não é bandido” e “Alô, policia, pode chegar, seu salário também vai aumentar”.

Foto: iG
Ônibus deixa o Batalhão de Choque com os bombeiros presos
*Com reportagem de Anderson Ramos, especial para o iG, e Vicente Seda, iG Rio de Jane

Um comentário:

Carlos disse...

Por que o ato dos bombeiros cria um precedente perigoso

Os bombeiros assim como qualquer categoria têm o direito de pedir melhoria salarial, ocorre que por servirem junto com a PM, sob regime militar, lhes é vetado o direto à greve. Nos últimos dias o que tenho visto no Rio é um circo. Uma categoria que vem sendo “doutrinada” por políticos faz meses, chega ao ponto de rasgar sua lei militar, invadir um quartel, ocupar e inutilizar viaturas.
Ora, isso é inadmissível em um estado de direito. Imaginemos se médicos decidem fazer greve, invadir hospitais, furar pneu das ambulâncias e trancar as portas; E se um dia policiais em greve ocuparem os presídios e ameaçarem soltar os presos? Não obstante, teríamos ainda a possibilidade de Soldados do exército em greve, colocarem tanques para obstruir vias. Pergunto: Onde a sociedade vai parar? É esse o precedente que a sociedade deseja abrir com os bombeiros?
Para que não corramos esse risco há uma legislação militar que rege as FFA, Bombeiros e a PM. Independente de qualquer pleito salarial, ela tem de ser respeitada. No momento em que a sociedade permitir que essa lei seja ignorada, estará pondo em risco sua própria ordem.