Mato Grosso do Sul -  Com a facilidade de acesso aos celulares, presidiários adotaram uma nova mania: atualizar o Facebook, passatempo que está sem controle das autoridades. Depois de encontrar no Facebook o perfil do detento Carlos Alexandre Matias Alves, que usa o nome Alexandre Riskado Mathias na internet e cumpre pena no presídio de segurança máxima de Campo Grande (MS), O DIA procurou o responsável pela rede social na América Latina, delegados de polícia, advogados e chefes de segurança. E a conclusão é a de que todos estão de mãos atadas no caso.
“Temos cuidados com os termos de política de uso, mas com o volume de conteúdo de 1 bilhão de pessoas (no mundo) é impossível monitorar tudo”, comenta Alexandre Hohagen, presidente do Facebook na América Latina, que deixa claro que a responsabilidade de desmascará-los não está nas mãos da empresa.
“O Facebook passa a ter responsabilidade a partir de quando é notificado de uma denúncia, o resto é dever do Estado”, ressaltou Denise Milani, advogada especialista em ações na Internet.
E, assim como acontece com o Facebook, a polícia tem dificuldade para localizar os criminosos nas redes virtuais. Um investigador da polícia civil de Campo Grande (MS), que prefere não ser identificado, explica o problema. “O setor de inteligência não consegue acompanhar tudo e trabalha em cima de denúncias. E isso é preocupante, porque está ocorrendo o favorecimento real de alguém que está privado da liberdade”, afirma.
As autoridades encontram dificuldades para definir a punição aos detentos. “O crime configurado está na pessoa que leva o aparelho para o presidiário. O detento só é submetido a uma punição administrativa”, explica o delegado civil Matuzalém, de Campo Grande (MS).
A Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul garante que o infrator é punido com o isolamento em uma cela e tem sua ficha marcada com uma falta grave, perdendo o direito de progressão de regime, que é a diminuição do tempo a cumprir na cadeia.
Em conversa com as autoridades, fica claro que a preocupação maior é com a entrada dos celulares nos presídios. Em toda ocorrência, a administração penitenciária abre uma investigação para descobrir se funcionários facilitaram a entrega dos aparelhos aos presos.
INFRAÇÃO COMPARTILHADA
Carlos Alexandre Matias Alves, que, no Facebook, é ‘Alexandre Riskado Mathias’, não esconde que está preso em seus posts.
Foto: Reprodução
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Quanto à sua localização, a rede social informa que é Campo Grande, onde fica o presídio de segurança máxima em que cumpre pena. Sem nenhuma preocupação em disfarçar que está cometendo uma infração, Alexandre lamenta estar na cadeia. Ele manda ameaças veladas a inimigos que estão livres e tem amigos que ‘curtem’ seus posts e fazem comentários.
Do Rio ao Reino Unido
Fernando Cristóvão Duarte, que aguardava julgamento no Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste, atualizou sua página no Facebook e foi descoberto. Com a denúncia há quinze dias, sua página foi retirada do ar. Segundo a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap), o preso foi transferido para Bangu I e foi instaurada sindicância sobre a maneira como ele teve acesso ao celular.
No Reino Unido, presidiários fizeram ameaças a pessoas soltas e até a policiais responsáveis por suas prisões. Lá se discute uma pena para a infração.
Bloqueador pode resolver
Uma solução para acabar com o uso de celular, tanto para ligação como atualização de redes sociais, seria a instalação de bloqueadores de sinal nos presídios. “É de competência do Estado instalar bloqueadores e detectores de metais nos presídios. As prestadoras de serviços de telecomunicações contribuem com consultoria técnica”, afirma a SindiTelebrasil, sindicato que reúne as principais operadoras móveis do País.
Procurada pela reportagem, a Agepen, responsável pela administração carcerária de Mato Grosso do Sul, não se pronunciou.
Fonte: ODIA