Rio -  Contagem regressiva para um tratamento de choque contra o crack. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) já entregou à Secretaria de Segurança do Rio 250 armas de choque elétrico para serem usadas na abordagem de usuários da droga.

A medida, polêmica, vem embutida em pacote que inclui a entrega de mais 750 sprays de pimenta, cinco bases de monitoramento e 100 câmeras para vigiar as cracolândias, criando o "Big Brother do crack", conforme O DIA antecipou em janeiro.

Os investimentos federais do programa ‘Crack, É Possível Vencer’, que somam R$ 240 milhões, deverão ser empregados na região do Parque União, no Complexo da Maré, para onde os viciados migraram após a ocupação policial do Jacarezinho e Manguinhos, há quase um mês. Às margens das avenidas Brasil e Brigadeiro Trompowski, nova cracolândia se formou.
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Diariamente, o usuários invadem as pistas, sem se preocupar com o risco de atropelamentos e acidentes — alguns chegam a se pendurar em carros em movimento. O perigo tem assustado os motoristas.

“Sou taxista, passo aqui todos os dias e os cracudos estão lá a qualquer hora. Na semana passada, quase atropelei um”, conta Paulo César Oliveira, 44 anos.

A motorista Tânia Maria da Silva, 43, alerta para o número crescente de viciados no acesso à Ilha do Governador. “Eles atravessam as pistas a qualquer hora. Tenho medo deles, só de falar me arrepio”. Analista de sistemas, Adriano Blanco, 40, faz coro: “A entrada da Ilha está um inferno. Eles passam alucinados no meio da rua, e a gente tem que desviar deles”.
Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Viciados sobem num carro em movimento, a poucos centímetros de um caminhão. Presença de cracudos descontrolados assusta motoristas | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
No pacotão da Senasp também virão motocicletas e capacetes. Policiais já foram treinados para o uso dos equipamentos. A secretaria e a PM definirão as regiões, mas a prioridade é para áreas que enfrentam problemas com crack.

Alta voltagem apresenta risco de vida para cardíacos

O uso de pistola de choque de 5 mil volts abre polêmica. Tem efeito de inibidor, mas também pode levar à morte quem tem problemas cardíacos.

“O choque desse equipamento envolve risco cardíaco. Não posso afirmar que, por ser usuária, a pessoa já tenha problema de coração. Mas, sem essa avaliação, há possibilidade de morte”, explica o cardiologista Mario Faillace.

Em março, o estudante brasileiro Roberto Laudisio Curti, 21 anos, morreu ao ser atingido por 14 disparos de arma de choque em Sydney, na Austrália.

As investigações apontaram que Roberto teria consumido drogas antes de morrer. Segundo inquérito, ele havia furtado um pacote de biscoito em uma loja e, perseguido pelos policiais, foi atingido várias vezes, mesmo depois de dominado. Imagens mostraram que Roberto, no momento da morte, estava cercado por 11 policiais.
Fonte: ODIA